quinta-feira, 1 de outubro de 2009

JC e-mail 3845, de 10 de Setembro de 2009.

Cientistas asiáticos descobrem um novo parasita que causa malária.Protozoário se reproduz mais rapidamente que outras espécies.
Uma nova forma de malária foi identificada na Ásia. Ela é transmitida por um parasita que até então se acreditava ser capaz de infectar apenas macacos.

Um estudo mostrou, porém, que ele já afeta humanos, podendo levar à morte caso a doença não seja diagnosticada rapidamente. A malária mata, anualmente, um milhão de pessoas em todo o mundo.

Os pesquisadores da Universidade Malaysia Sarawak fizeram testes em 150 pacientes internados num hospital na Malásia, entre julho de 2006 e janeiro de 2008, com sintomas de malária.

Eles descobriram que mais de dois terços dos casos estavam relacionados a infecções ligadas ao parasita Plasmodium knowlesi. A maior parte dos pacientes apresentou sintomas brandos e foi curada facilmente, com o tratamento adequado. Mas um entre cada dez pacientes desenvolveu complicações e dois morreram.

Pesquisadores temem que doença se alastre

O Plasmodium knowlesi é um dos quatro parasitas conhecidos que causam a doença. O mais mortal é o P. falciparum, normalmente encontrado em regiões da África. O P. malariae e o P. vivax são mais frequentes na Ásia e na América Latina, e menos agressivos. O estudo, publicado na revista científica "Clinical Infectious Diseases", revelou que o Plasmodium knowlesi pode ser facilmente confundido com o P. malariae em exames clínicos.

A diferença é que o Plasmodium knowlesi pode se reproduzir no sangue a cada 24 horas, tornando a infecção potencialmente fatal. Por isso, o grupo de pesquisadores, liderado pelo médico Balbir Singh, considera o diagnóstico precoce fundamental. O estudo diz que a nova forma da doença se encontra limitada ao sudeste asiático, mas cientistas temem que ela se alastre para outras regiões.

- Com o aumento do turismo no sudeste asiático, novos casos podem aparecer fora da região - alertou Singh. - Médicos que atendam pacientes provenientes dessa área devem ficar atentos para um diagnóstico rápido e preciso.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, as crianças são as principais vítimas da malária: 85% dos casos, com 91% de mortes na África. No Brasil, foram notificados 549.184, em 2006, de acordo com o Ministério da Saúde.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"Fábricas" de células receberão verba de R$ 6,6 mi do BNDES - Reinaldo José Lopes escreve para a "Folha de SP":

Dois centros, um no Paraná e o outro em Ribeirão Preto (SP), vão receber R$ 6,6 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para se transformar em "fábricas" de células-tronco adultas. A ideia é refinar as técnicas de laboratório que permitem cultivar essas células, para que seja possível distribuí-las para instituições de pesquisa biomédica em todo o Brasil.

A Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, ligada à USP, deve contar com R$ 3,57 milhões em recursos do BNDES, enquanto o Centro de Tecnologia Celular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) vai receber R$ 3,04 milhões. As duas instituições já aplicaram tratamentos experimentais com células-tronco em pequenos grupos de pacientes, com sucesso considerável contra doenças como diabetes tipo 1, esclerose múltipla e problemas cardiovasculares.

Os pesquisadores vão trabalhar com dois tipos de células-tronco adultas, as mesenquimais (obtidas principalmente da medula óssea) e as células progenitoras endoteliais (cuja fonte mais promissora é o sangue do cordão umbilical).

As primeiras parecem ser capazes de dar origem ao tecido muscular, ósseo e adiposo (gordura), além de controlar o sistema de defesa do organismo, enquanto as endoteliais podem reconstruir vasos sanguíneos, o que faz delas armas interessantes contra males cardíacos e circulatórios, como isquemias.

Segundo o BNDES, a ideia é que ambos os centros "abasteçam" as instituições que fazem parte da Rede Nacional de Terapia Celular. "Vamos ser capazes de atender os membros da rede que necessitarem de um tipo específico de célula", explica Paula Hansen Suss, responsável pelo controle de qualidade do centro da PUC-PR.

"Se for necessário captar as células de alguém em Salvador e expandi-las [multiplicá-las] em laboratório, será viável fazer isso", diz Suss, que é orientanda de doutorado de Paulo Roberto Brofman, coordenador do centro paranaense.

Para a pesquisadora, o financiamento é mais um passo rumo ao uso clínico disseminado das células-tronco -caso elas realmente sejam eficazes. "Para a rede pública de saúde, é um investimento que vale a pena."
(Folha de SP, 16/9)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Reciclagem Marinha Alterada - Por Fábio de Castro



As bactérias quitinolíticas são microrganismos fundamentais para os ecossistemas marinhos, pois produzem uma enzima conhecida como quitinase, por meio da qual exercem um papel importante no processo de degradação da quitina, principal constituinte do exoesqueleto dos artrópodes e moluscos.Um novo estudo feito na Universidade de São Paulo (USP) indica que, em ambientes onde há maior impacto de atividades humanas e maior nível de contaminação fecal, essas bactérias apresentam, por um lado, maior capacidade de produzir quitinase – que tem aplicações potenciais na agricultura, medicina e em processos biotecnológicos. Mas, por outro lado, têm sua diversidade reduzida, o que pode gerar desequilíbrios ambientais. O estudo correspondeu à tese de doutorado de Claudiana Paula de Souza-Sales, defendida em agosto no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, com apoio da FAPESP.A pesquisa foi orientada pela professora Irma Rivera, do Laboratório de Ecologia Microbiana Molecular do Departamento de Microbiologia do ICB, que coordena o projeto de pesquisa “Diversidade de microrganismos marinhos, com ênfase em proteobactérias vibrios, colífagos, leveduras e bactérias quitinolíticas”, apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.De acordo com Irma, o estudo avaliou a diversidade das bactérias quitinolíticas isoladas de amostras de água do mar e de plâncton coletadas em três pontos da região costeira do Estado de São Paulo, com diferentes níveis de atividade antropogênica: Baixada Santista, canal de São Sebastião e Ubatuba.“O nível de contaminação fecal presente em cada ambiente estudado influenciou significativamente a diversidade e o potencial enzimático das bactérias. A maior diversidade – abrangendo 19 gêneros – foi encontrada nas amostras do canal de São Sebastião e de Ubatuba, que têm médio e baixo nível de impacto antropogênico, respectivamente”, disse à Agência FAPESP.Já na Baixada Santista, onde o impacto antropogênico é muito maior, com presença de poluição doméstica e industrial, a diversidade de gêneros das bactérias foi muito menor. “Mais de 78% das bactérias quitinolíticas presentes ali pertenciam ao gênero Aeromonas sp, disse a professora, que é embaixadora do Brasil na Sociedade Norte-Americana de Microbiologia (ASM, na sigla em inglês).Segundo a pesquisadora, diferentemente do que se pensava no passado, nem todas bactérias são patogênicas e algumas têm funções importantes em determinados nichos ecológicos. As bactérias quitinolíticas degradam as carapaças de animais marinhos. Dados da literatura internacional estimam a produção total de quitina nos oceanos, durante o verão, entre 10 elevado a nove e 10 elevado a 11 toneladas métricas.“Grande parte dos animais marinhos troca de exoesqueleto no verão e essa matéria é lançada no ambiente em imensas quantidades. A maior parte dessa produção é proveniente da carapaça de zooplâncton. Essas bactérias usam quitinases principalmente para digerir quitina como uma fonte de nutrientes e possibilitam, dessa forma, a reciclagem desse polissacarídeo nos oceanos”, explicou.Para realizar o estudo Claudiana fez o isolamento e a contagem das bactérias, cultivadas em amostras de substrato marinho das três áreas do litoral paulista. As bactérias obtidas foram caracterizadas por métodos fenotípicos e genotípicos. Foram isoladas, no total, 492 bactérias quitinolíticas.“Ela contou tanto amostras de água como de plâncton, já que dentro dele também há presença dos microrganismos”, disse Irma. O plâncton foi obtido com rede de malha de 100 micrômetros.Nas amostras de água do mar foram determinados parâmetros físico-químicos (como temperatura, pH, salinidade e condutividade) e microbiológicos (coliformes termotolerantes e enterococos intestinais, entre outros).A produção de quitinase das bactérias pode ser visualizada a partir de um halo formado no meio mínimo contendo quitina coloidal. “Quando os microrganismos consomem a quitina, forma-se um halo, que é medido nas diferentes amostras. Quanto maior o halo, maior a expressão da enzima quitinase”, explicou Irma. Aplicações e equilíbrio Segundo o estudo, os maiores valores de quitinases foram detectados em bactérias de água do mar na Baixada Santista, onde há o maior impacto antropogênico. Mas ali também houve a menor diversidade de gêneros. O trabalho concluiu que a diversidade de bactérias quitinolíticas e o potencial de produção de quitinases foram influenciados pelo nível de contaminação fecal presente no ambiente.Quando há alta concentração de contaminação orgânica no ambiente aquático, as bactérias podem aumentar a produção de quitinase, degradando maiores quantidades de quitina e balanceando o sistema ecológico novamente. Mas, a partir de certo limite, a contaminação passa a ser muito grande e o corpo d’água pode perder a capacidade de recuperação.“Para viver em um ambiente inóspito, com alta atividade antropogênica, as bactérias criam mecanismos de sobrevivência natural. O estudo confirmou que, na Baixada Santista, as bactérias quitinolíticas têm maior capacidade de degradação dos substratos. Esse poder exacerbado pode trazer vantagens para o uso biotecnológico. Mas, por outro lado, estamos perdendo a identidade ecológica do ambiente e a diversidade desses microrganismos”, destacou Irma.Com os níveis de poluição doméstica e industrial da Baixada Santista é possível que já haja bactérias capazes de degradar produtos recalcitrantes. Com essa capacidade, elas poderiam ser utilizadas industrialmente no futuro. “Mas não adianta ter uma ‘superbactéria’ se esse processo também está matando os peixes e destruindo a diversidade do ecossistema marinho”, afirmou.As bactérias quitinolíticas têm aplicações biotecnológicas na agricultura, para controle de insetos e fungos ou para o desenvolvimento de plantas transgênicas resistentes ao ataque de microrganismos.“As bactérias poderiam ser utilizadas na produção de quitosana a partir de quitina de crustáceos e ostras, no tratamento de efluentes de indústria alimentícia e na medicina, para o desenvolvimento de compostos biologicamente ativos para uso em atividade antitumoral”, disse a professora do ICB. Fonte: Agência FAPESP.

OPORTUNIDADES


*Oportunidade 1* Bolsa de pesquisa (DTI nível I, CNPq) para profissional graduado com experiência mínima de 4 anos em pesquisa (incluindo mestrado e/ou doutorado), preferencialmente na área de sensoriamento remoto e hidrologia, com conhecimento em programação (IDL, Envi, ou outros programas e linguagens empregadas em geoprocessamento). Atuação na área de modelagem da superfície do terreno/hidrologia para acoplamento aos modelos climáticos. Atuação INPE - São José dos Campos. Início imediato. Período: 2 anos
*Oportunidade 2* Bolsa de pesquisa (DTI nível I, CNPq) para profissional graduado com experiência mínima de 4 anos em pesquisa (incluindo mestrado e/ou doutorado), com conhecimento em programação (Fortran, Grads e/ou outros empregados em modelagem climatica). Desejável conhecimento na área de hidrologia/hidrogeologia. Atuação na área de modelagem da superfície do terreno/hidrologia para acoplamento aos modelos climáticos. Atuação INPE - São José dos Campos. Início imediato. Período: 2 anos

Maiores informações: Laura De Simone Borma lsborma@yahoo.com.br

*Oportunidade 3* 10/9/2009 Oportunidade de PD em mudanças climáticas http://www.agencia.fapesp.br/materia/11044/noticias/oportunidade-de-pd-em-mudancas-climaticas.htmAgência FAPESP – O Projeto Temático “Crescimento urbano, vulnerabilidade e adaptação: dimensões ecológicas e sociais de mudanças climáticas no litoral de São Paulo”, apoiado pela FAPESP, tem vaga em aberto para Bolsa de Pós-Doutorado.De acordo com o cooedenador, o projeto de pesquisa sobre mudança climática é essencialmente uma colaboração entre as ciências sociais e ecológicas.O bolsista complementará a equipe de pesquisa e reforçará os objetivos de analisar as vulnerabilidades, mitigação e possibilidades de adaptação de cidades no Litoral Norte do Estado de São Paulo, com o intento de identificar e propor alternativas mais apropriadas para o desenvolvimento local e regional.O bolsista trabalhará, a partir de 1º de novembro de 2009, junto com a equipe de pesquisa, complementando as equipes de sociólogos, demógrafos e ecólogos. O valor da bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP é de R$ 4.508,10.Os(as) candidatos(as) devem ter título de doutor em economia ecológica, economia de recursos naturais ou campo associado. Devem enviar currículum vitae (para brasileiros pode ser o link do currículo Lattes), histórico escolar dos cursos de pós-graduação e uma carta expondo a experiência e interesse no tema.Os documentos deverão ser enviados até o dia 30 de setembro ao professor Daniel Joseph Hogan, dos Núcleos de Estudos de População (Nepo) e de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) da Universidade Estadual de Campinas, pelo e-mail hogan@nepo.unicamp.br.Mais informações sobre a vaga: www.fapesp.br/oportunidades/hogan.pdf. Outras vagas de bolsas de pós-doutorado, em diversas áreas do conhecimento, estão no site FAPESP-Oportunidades, em www.oportunidades.fapesp.br.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Uma curiosa troca de favores entre pulgões, bactérias e vírus, artigo de Fernando Reinach

Uma curiosa troca de favores entre pulgões, bactérias e vírus, artigo de Fernando Reinach

"Os três organismos, o vírus, a bactéria e os pulgões, colaboram no combate às larvas de vespa
Fernando Reinach é biólogo. Artigo publicado em "O Estado de SP":

Os agricultores têm razões para não gostar dos pulgões. A maioria deles vive camuflada sob as folhas, sugando a seiva por um poderoso sifão. É assim que vive o Acyrthosiphon pisium, um pulgão que infesta as plantações de ervilha. Muito antes de ser combatido pelos agricultores, o Acyrthosiphon já enfrentava seu inimigo natural, a vespa Aphidius ervi.

Essa vespa, duas vezes maior que o pulgão, imobiliza a vítima, e quando você imagina que ela vai picar o pulgão e sugar o bichinho até deixar ele seco, ela dobra o abdome para a frente e, por entre as patas, usa seu ovopositor, um apêndice que parece uma seringa, para depositar no interior do pulgão um ovo fecundado. Após a injeção, ela liberta o bichinho.

Mal sabe o pulgão que horas depois esse ovo vai eclodir e a larva da vespa vai se desenvolver no seu interior, comendo o bichinho por dentro. Gorda e bem alimentada, a larva da vespa acaba por matar o pulgão, emergindo do seu cadáver.

Mas se você imagina que os pulgões são vítimas indefesas da vespas, incapazes de uma reação, você está subestimando o poder da seleção natural. Ao longo de milhares de anos, os pulgões desenvolveram uma aliança bélico-estratégica com uma bactéria chamada Hamiltonella defensa. Essa bactéria vive no interior do pulgão e, ao longo da evolução, criou uma relação extremamente íntima com seu hospedeiro.

A intimidade é tanta que o pulgão permite que a bactéria participe de seu ato sexual. Quando o espermatozoide de um pulgão se funde a um óvulo de um pulgão fêmea, a bactéria Hamiltonella está presente e espertamente infecta imediatamente o ovo a partir do qual vai se desenvolver o pulgão filho. O filho pulgão já nasce com a bactéria no seu interior. Dessa maneira, a Hamiltonella se perpetua no interior dos pulgões.

É fácil entender como a bactéria se beneficia de sua relação com o pulgão, mas que vantagem leva o pulgão em abrigar no seu interior a bactéria? Simples: a Hamiltonella é capaz de matar as larvas da vespa parasita. A taxa de sobrevivência dos ovos da vespa no interior de pulgões que possuem a bactéria Hamiltonella é de somente 10%.

Mas, se você criar pulgões livres da bactéria, 85% dos pulgões infectados são mortos pelas larvas da vespa. O acordo entre o pulgão e a bactéria é o seguinte: eu te alimento, mas em troca você mata as larvas de vespa assim que elas forem injetadas dentro de mim.

Agora foi descoberto que esse acordo envolve mais um ser vivo, um vírus que vive no interior da Hamiltonella. Os cientistas descobriram que a Hamiltonella mata as larvas da vespa utilizando uma toxina muito poderosa. O problema é que eles também descobriram que o gene para a produção dessa toxina não está no genoma da bactéria, mas sim no genoma de um vírus que vive no interior da Hamiltonella.

Quando trataram as bactérias e removeram o vírus, descobriram que sem ele a bactéria não é capaz de matar as larvas de vespa. Mas basta infectar de novo as Hamiltonellas com o vírus para se tornarem eficazes matadores de vespas.

A conclusão é que a bactéria tolera a presença do vírus no seu interior, pois ele permite que a bactéria se torne letal para as larvas de vespas. Sendo letal para as larvas de vespas, a presença da bactéria no interior dos pulgões também é tolerada. E assim os três organismos, o vírus, a bactéria e os pulgões, colaboram no combate às larvas de vespa. Ganha o pulgão, que fica protegido das vespas; ganha a bactéria, que possui um lar dentro do pulgão; e ganha o vírus, que possui um lar dentro da bactéria. É um belo exemplo de um tipo de simbiose que os biólogos chamam de mutualismo.

Mais informações: Bacteriophages encode factors required for protection in a symbiotic mutualism. Science, vol. 325
(O Estado de SP, 10/9)